26/11/2011

Cinza Sangue



O mar meu mar, menina dos pés pesados, cometas e ladrões estelares

A chuva não tem mais levado meu males meus medos e temores, a chuva não tem escorrido as lagrimas que nasceram da minha pele, pela enxurrada, como pode pai? Eu me deixei morrer sem nem ao menos viver. Onde está a menina dos pés pesados? Talvez voando por ai, distribuindo seu peso com a maior hipocrisia nas costas dos pequenos pássaros de asas longas. Agora é tudo assim, é como se o fim fosse acabar, mais mesmo assim eu não conseguisse romper a cena final, o tempo é dono da minha vida, e é só ele que interrompe o meu chegar ao fim, enquanto todos os outros estão se perdendo no horizonte, eu ainda estou aqui, atrofiando meus braços sem sair do lugar, remando num mar sem correntezas.
                                  
Meu corpo foi se descarnando e os poros de sangue se perderam pelo ar.  As aves ainda rezam por nós. Deixe o amor te sorver por sobre os ombros uma voz ecoou do livro enquanto entre alguns assobios, disfarçados na aula de antropologia, bem baixinho eu cantava “alegoria”. Parecia um sonho? Mais ele posou a mão em seus ombros, enquanto disfarçadamente sua pele se arrepiava, e seu coração subia a boca.

Pinte as cidadelas de Belém, pois é pra lá que estou a caminhar
Arrume o céu da pequena vila, e o enfeite de alegorias
Alegorias, que brilhem e chamusquem os olhos
Alegorias estelares. Cubram esse céu de estrelas
Pinta a borda de violeta e prenda no pé do cometa
Balões de são João, sigam os passos
Pois a alegoria não espera, e quem espera se atrapalha
O laia, laia laia laia laia.

Abrace a escultura de vento que o vento esculpiu, e chore por não telo ao seu lado, a boca que remédio lhe cura. O diabo fofocava em meus ouvidos, enquanto os mesmos a todo iam se fazendo surdos. Passagem oito da pagina setenta e três, e a voz ecoa, como se pudesse sentir cortes penetrando a minha pele, e suplantando dentro de tal veneno. “Cinza Sangue”, o titulo, repousa comigo na cabeceira da cama, os meus lábios molhados de sangue assinam cada linha e entre linhas, dispostas pelo autor do livro. Eu estou morta ou ainda vivo? Pois uma colcha de pássaros mortos tenta a todo custo me esquentar a pele falecida.  
Se afogando, as bolhas não lhe dão mais ar, arranhar, e arranhar a pele, como sinal de desespero, foram o que sobrou pra acalmar ou pra atormentar mais a alma. “Cinza Sangue”, mesmo depois de quase setenta anos, encontro as brochuras do primeiro exemplar um pedido que o final fosse refeito, não tão feliz e também nem tão comiseração. Michelangelo entra em meus devaneios, numa chuvosa noite de sábado acaricia a ponta do meu nariz, e pede com aquele sorriso quase puxado “O Grito”, pinte o céu, de vida, de vida de fato de vida as borboletas, apanhem-nas e joguem-nas no conto, mais lhe de o sopro, do mesmo que de suas narinas foram soprados. Não deixes mais, nunca mais, que uma ancora lhe rebaixe, ao fundo do mar cheio de quimeras e, um negrume, que lhe deixaram cético para arte final, a morte. Você conversa comigo, enquanto repinto o juízo final, mais os detalhes não podem ser postos na copia, eu tento com um pouco de gesso, apagar o final, mais os séculos das trevas me engolem e o que lhe resta agora são as poesias simplistas, claras, ilusórias, que daí tu rasgas a verdade de tais e junta-as com a verossimilhança, o mundo precisa de mais poesias e menos bombas “Cinza Sangue”, primeiro exemplar de um fragmento raríssimo esperando o meu deleite, de dias repetitivos. Eu irei enlouquecer, amando e amaldiçoando, suas entrelinhas e suas metáforas, por anos caprichados.

E mesmo que os pássaros caiam do alto acreditando que o nosso amor é pra sempre, eu não vou parar de dançar, vou jogar suas cinzas pelo vento e algumas minha epiderme irá chupar, e então eu vou voar. Não caia eu disse a eles, nada do que vos vês é pra sempre, tudo é passagem é passageiro, eu posso dizer, porque passou, e doeram como mil vidas, vivida em apenas, uma grande e penosa vida. Mate-me, eu preciso viver. E nossas almas são fotogênicas. Ele lhe beija em seus devaneios impossíveis, e depois lhe toca uma seresta em serenata de casais enamorados, enquanto que com a flauta seus ouvidos vão sendo banhados de notas submarinas, sinto muito, mais ela vai se afogar, e preza dentro de um desregrar saboroso a visões noturnas, neons vai-lhe queimando aos olhos, quando louca de sentidos se joga no chão arranhado de dor, mais antes cai em braços que lhe seguram a queda “Cinza Sangue” me corta as artérias e me jorra sangue, gotículas acidas, de chuvas que se aproxima mais não chove, gritam na minha pele, agora flácida de desejos depreendidos.   Com poucas cores eu recrio o mundo, com poucas cores eu repinto o espaço e dou a galáxia vida. Com pouca cor, ladrões estelares, roubam minhas estrelas e saem galopando nos seus foguetes de emergência, com muita paz e paciência a flor despetalada e atropelada se recompõe, mais meus braços se dispõe a auxiliá-las, pois como elas, quebraram-me o coração também, e assim é só um vaso pra cada flor, mais o vaso também quebrou “Cinza Sangue”, capitulo dezoito pagina vinte e três, me jorrar sangue, quando palavras simbolicamente metafóricas, exerce um poder gigantesco e retorna-me o coração ao barro, depois o arrastam para pedras, sim, as pedras, essas mesmas quebradas e dividas por machucar tanto e ferir absurdo, frias simplesmente frias.

Somos vinho, envelhecemos com o tempo, e fica mais e mais saboroso, com o longo de tal.
Está tão difícil agora rabiscar a saudade em pratos limpos todos estão partindo, morrendo pra renascer de novo. Perdemos amor como perdemos a vida, perdemos amor como perdemos sangue, perdemos amor como se perde a vida, que se desvencilha na estrada obscura e fatal da morte, perdemos tudo, após a queda disfarçada de desgraça, até a morte, até a morte nos perde, até a vida perdemos.

                        “A gente brinca de amar o impossível e, acaba mesmo é amando o intangível”.

(Vinicius Sousa)


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