O mar meu mar,
menina dos pés pesados, cometas e ladrões estelares
A chuva não tem mais levado meu males meus medos e temores,
a chuva não tem escorrido as lagrimas que nasceram da minha pele, pela
enxurrada, como pode pai? Eu me deixei morrer sem nem ao menos viver. Onde está
a menina dos pés pesados? Talvez voando por ai, distribuindo seu peso com a
maior hipocrisia nas costas dos pequenos pássaros de asas longas. Agora é tudo
assim, é como se o fim fosse acabar, mais mesmo assim eu não conseguisse romper
a cena final, o tempo é dono da minha vida, e é só ele que interrompe o meu
chegar ao fim, enquanto todos os outros estão se perdendo no horizonte, eu
ainda estou aqui, atrofiando meus braços sem sair do lugar, remando num mar sem
correntezas.
Meu corpo foi se descarnando e os poros de sangue se
perderam pelo ar. As aves ainda rezam
por nós. Deixe o amor te sorver por sobre os ombros uma voz ecoou do livro
enquanto entre alguns assobios, disfarçados na aula de antropologia, bem
baixinho eu cantava “alegoria”. Parecia um sonho? Mais ele posou a mão em seus
ombros, enquanto disfarçadamente sua pele se arrepiava, e seu coração subia a
boca.
Pinte as cidadelas de Belém, pois é pra lá que estou a
caminhar
Arrume o céu da pequena vila, e o enfeite de alegorias
Alegorias, que brilhem e chamusquem os olhos
Alegorias estelares. Cubram esse céu de estrelas
Pinta a borda de violeta e prenda no pé do cometa
Balões de são João, sigam os passos
Pois a alegoria não espera, e quem espera se atrapalha
O laia, laia laia laia laia.
Abrace a escultura de vento que o vento esculpiu, e chore
por não telo ao seu lado, a boca que remédio lhe cura. O diabo fofocava em meus
ouvidos, enquanto os mesmos a todo iam se fazendo surdos. Passagem oito da
pagina setenta e três, e a voz ecoa, como se pudesse sentir cortes penetrando a
minha pele, e suplantando dentro de tal veneno. “Cinza Sangue”, o titulo,
repousa comigo na cabeceira da cama, os meus lábios molhados de sangue assinam
cada linha e entre linhas, dispostas pelo autor do livro. Eu estou morta ou
ainda vivo? Pois uma colcha de pássaros mortos tenta a todo custo me esquentar
a pele falecida.
Se afogando, as bolhas não lhe dão mais ar, arranhar, e
arranhar a pele, como sinal de desespero, foram o que sobrou pra acalmar ou pra
atormentar mais a alma. “Cinza Sangue”, mesmo depois de quase setenta anos,
encontro as brochuras do primeiro exemplar um pedido que o final fosse refeito,
não tão feliz e também nem tão comiseração. Michelangelo entra em meus
devaneios, numa chuvosa noite de sábado acaricia a ponta do meu nariz, e pede
com aquele sorriso quase puxado “O Grito”, pinte o céu, de vida, de vida de
fato de vida as borboletas, apanhem-nas e joguem-nas no conto, mais lhe de o
sopro, do mesmo que de suas narinas foram soprados. Não deixes mais, nunca
mais, que uma ancora lhe rebaixe, ao fundo do mar cheio de quimeras e, um
negrume, que lhe deixaram cético para arte final, a morte. Você conversa
comigo, enquanto repinto o juízo final, mais os detalhes não podem ser postos
na copia, eu tento com um pouco de gesso, apagar o final, mais os séculos das
trevas me engolem e o que lhe resta agora são as poesias simplistas, claras,
ilusórias, que daí tu rasgas a verdade de tais e junta-as com a
verossimilhança, o mundo precisa de mais poesias e menos bombas “Cinza Sangue”,
primeiro exemplar de um fragmento raríssimo esperando o meu deleite, de dias
repetitivos. Eu irei enlouquecer, amando e amaldiçoando, suas entrelinhas e
suas metáforas, por anos caprichados.
E mesmo que os pássaros caiam do alto acreditando que o
nosso amor é pra sempre, eu não vou parar de dançar, vou jogar suas cinzas pelo
vento e algumas minha epiderme irá chupar, e então eu vou voar. Não caia eu
disse a eles, nada do que vos vês é pra sempre, tudo é passagem é passageiro,
eu posso dizer, porque passou, e doeram como mil vidas, vivida em apenas, uma
grande e penosa vida. Mate-me, eu preciso viver. E nossas almas são
fotogênicas. Ele lhe beija em seus devaneios impossíveis, e depois lhe toca uma
seresta em serenata de casais enamorados, enquanto que com a flauta seus
ouvidos vão sendo banhados de notas submarinas, sinto muito, mais ela vai se afogar,
e preza dentro de um desregrar saboroso a visões noturnas, neons vai-lhe
queimando aos olhos, quando louca de sentidos se joga no chão arranhado de dor,
mais antes cai em braços que lhe seguram a queda “Cinza Sangue” me corta as
artérias e me jorra sangue, gotículas acidas, de chuvas que se aproxima mais
não chove, gritam na minha pele, agora flácida de desejos depreendidos. Com
poucas cores eu recrio o mundo, com poucas cores eu repinto o espaço e dou a
galáxia vida. Com pouca cor, ladrões estelares, roubam minhas estrelas e saem
galopando nos seus foguetes de emergência, com muita paz e paciência a flor
despetalada e atropelada se recompõe, mais meus braços se dispõe a auxiliá-las,
pois como elas, quebraram-me o coração também, e assim é só um vaso pra cada
flor, mais o vaso também quebrou “Cinza Sangue”, capitulo dezoito pagina vinte
e três, me jorrar sangue, quando palavras simbolicamente metafóricas, exerce um
poder gigantesco e retorna-me o coração ao barro, depois o arrastam para
pedras, sim, as pedras, essas mesmas quebradas e dividas por machucar tanto e
ferir absurdo, frias simplesmente frias.
Somos vinho, envelhecemos com o tempo, e fica mais e mais
saboroso, com o longo de tal.
Está tão difícil agora rabiscar a saudade em pratos limpos
todos estão partindo, morrendo pra renascer de novo. Perdemos amor como
perdemos a vida, perdemos amor como perdemos sangue, perdemos amor como se perde
a vida, que se desvencilha na estrada obscura e fatal da morte, perdemos tudo,
após a queda disfarçada de desgraça, até a morte, até a morte nos perde, até a
vida perdemos.
“A gente brinca de amar o impossível e, acaba mesmo é
amando o intangível”.
(Vinicius Sousa)
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