11/12/2011

A Morsa e o Caça(dor)


Lembra? De lembrar que as lembranças ainda aporiam? Seus olhos moles começam a fenecer perante meu semblante de morsa inquieta.  As folhas da macieira vão desabando e confrontando o chão, com o restante das frutas podres que despencaram por estarem maduras demais. No devaneio de meu sonho vejo flashes e aparo com as mãos Dantes molhadas o aspecto gentílico de meu rosto, enrugado pelas calamitosas águas salgadas que perfilam os mesmos. Seus pés começam a serem sepultados na terra agrida enquanto os nervos dos seus braços se esticam e vão se contraindo em dor, mais você não pode gritar você sussurra enquanto me ponho a rezar, enquanto no espectro do lado avesso estou rindo. Você tenta a todo modo, proteger a face das batidas que o vento lhe espalma na cara, você quer morrer, é você está tentando fazer a coisa mais sensata e concreta, que se deve fazer nesses casos, mais eu sou insano eu o quero vivo, morto vivo, a sua fortuna está afundando junto com a vela que vou desprezando de minuto a minuto eu preciso me desvencilhar de você, porque mesmo não sabendo, ainda estou hospedada, nos átrios de seu rubi, mas agora nada vai ser como antes, alguns crimes não tem perdão, a alma antes maculada, entrosaram-se num matiz de sentimentos por acharem os tons e os sons, seria agora impossível, mesmo tecendo o véu de minha não incapacidade em não desistir, sejamos lúcidos, é impossível, me agarrar em suas mãos sem sujá-las de barro, a minha pequenez, lhe fez descendente de uma injuriada fúria que brotou de seu âmago, é que eu não pude amar, mas eu insisto, é que não pude te ter, é que não pude viver então você deveria morrer mesmo te amando, eu ainda tento omitir, omitir não, mentir, mentir pra fatos que tentam reparar em mim, o odor que seu trevo deixou resignado em mim.

Lá estou eu do outro lado dá tela, Michelangelo não quer desenhar os pomos muito baixos, porque pomos, ainda é puro, puro que pisa no impuro, não eles não existem, desconsidere então essa ultima escrita esquizofrênica, que minhas mãos involuntariamente, quer pintar, pintar nas partes ainda brancas, ou mesmo nos cantos que sobraram dos livros, os temidos livros, sem palavras, os livros nunca lidos, os melhores livros, aqueles em que sua mente, se afunda e tende a se afogar em linhas, em que outrora sua própria imaginação vai tecendo. Dizer que queria eu, lhe ofertar o sol escarlate pela manhã nublada de cinza, séria uma bela mentira, com gosto de acepipes, eu não devo mais uma vez, mais uma vez é repetição, e eu vou acabar me viciando, em drogas passageiras, lembra quando me disse “o tempo passa depressa, ele corre demais”. Os olhos da morsa continuam ali em meio ao agreste desflorado de vida, a morsa agora é o caçador e o caçador agora é a caça a morsa se apresa, a morsa caça-a-(dor), como antes em um passado exonerado de saudade o fez.

 No reencontro, não há mais olhos se afanando, e nem corpos se desejando, é tudo uma cadeia, em que um dia a presa pode ser o caçador, não tem tez febril e nem unhas roxas, o coração não trepida, no balanço da gana de se salvar, vai escapulindo singelamente poeira pelo meio do peito, é uma escultura mal feita, por baixo do tecido de carne grossa é o que sobrou. Nem a lembrança preenche o vazio, que mudou de nome. Os ouvidos sondam os passos temerários, a morsa rabisca a seta, frívola e não mais, nunca mais inconseqüente ou afobada, é um jogo de nervos de aço, não existe mais a história de volta, existe sim, a revolta em olhos agora tardos de vingança, não existe mais pomos, a idéia da mente etérea ruiu, e agora o sonho é intangível o segundo plano mais intangível ainda, depois de caçar a sua presa e miar em sangue, ela se torna agora uma seria de calda esverdeada e olhos marejados de dor, e um leve arrependimento no canto da pupila esquerda , ela vai se afogar onde nasceu, o seu mar sempre foi nublado, e o anuncio de sua morte não vai ser esculpido nas águas, morreu sem alardes, crendo que se crer em nada, é o mais ponderável de um ser, “ela ainda ficou irrequieta por não saber o que se passava dentro de si”. Comumente, nunca mais soube

(Vinicius Sousa)

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