14/01/2012

Desabafo de Mim


Eu estou aqui nesse exato momento sentado na minha cama de frente para o meu notebook tentando escrever e cheio de dores nas costas, então eu paro e me pergunto por que será esse bloqueio de escrita, por que Deus? Penso que seja por causa do meu vocabulário reduzido que não ultrapassa algumas setecentas palavras, isso é depressivo. Não. Mas eu vejo que os meus textos não estão necessitando tanto dessa inserção de enxovalho de palavras que eu nem mesmo sei o significado. Não. Acho que está precisando mais de mim nele, o que eu vejo como palavras difíceis e de um rico vocabulário, talvez seja se não um medo, medo de não conseguir explorar, extrapolar meus sentimentos pra fora, onde esses sentimentos não fiquem dentro de mim me atormentando. Então preciso imediatamente escrever! Mas como se faz, quando a inspiração cansou e foi de vez embora? Quando se esforçar causa dor na nuca, ou quando pra escrever se precisa viver, e isso eu não faço. Digo, preciso de matéria, de conteúdo, preciso de assunto, de fatos, eu não os tenho e talvez eu nem me tenha, eu estou desencontrado por ai, de a a z eu nem escrevinho mais. Eu tenho tanto pra falar, eu tenho tanto pra dividir, mas meus dedos não querem ceder eu não sei o que faço, eu preciso seriamente o mais rápido possível expurgar esse bloqueio que está me bloqueando, eu preciso de uma fuga, e essa é a escrita! Com certeza que é.


 Eu parei de falar até dos clichês que eu inventava, eu gostaria muito de devanear e exorcizar meus medos em linhas que não sejam tênues, mas sim que estejam em desordem, que eu vou arrumá-las na minha bagunça, mas cadê o fio? por onde começo a puxar? Eu queria dividir esse minha bagagem que está fazendo pressão sobre meus ossos, o reumatismo é espiritual, dói muito. Eu quero-me (des)inundar ei! Eu preciso disso, eu quero compartilhar o meu peso, eu quero outras costas carregando o meu peso, eu quero gente levando um pouco dessa minha poesia mofada pra suas vidas atarantadas, quero que parem como num sinal de trânsito e nesses trinta segundos, tentem pensar um pouco em si mesmos, tentem ser por um pouco mais egoístas consigo mesmos, eu quero pesar, essa leveza me mata, eu não quero gravitar, eu estou muito mal obrigado, pra me iludir novamente, eu quero um “time” eu quero descobrir o meu espaço, eu preciso disso entende, é a libertação que eu nunca tive, é o prazer que nunca vi é o jeito que nunca vivi. Eu quero colecionar quedas, eu quero escrever eu quero rascunhar eu quero rabiscar eu quero me expressar, eu quero tentar me achar na minha bagunça, eu quero me perder nela, eu quero tanta coisa, e eu não tenho nada. Eu quero um minuto de silêncio, eu quero olhos fechados e só as pálpebras se mexendo com vontade de se abrir, é só o tempo de pegar alguns papeis em branco e um lápis fosco, e você nunca mais vai me ver, mas eu preciso ficar nu, eu preciso fazer sexo com o espelho, eu me perdi lá, eu tenho de me achar em meio às centenas de cacos que caíram dentro da mala sem fundo. Bem eu não quero explicações, eu não quero soluções, e nem me quero de volta, eu me quero de novo de um jeito que nunca fui, por isso é novo.


Eu queria poder tanto mas tanto estar sentindo nem que fosse com a cabeça, mas nem pra isso mais eu presto, eu estou me sentido como a carta fora do baralho, como o cheque mate no tabuleiro de xadrez, melhor me ganharam por WO, eu ainda nem tentei mostrar quem sou, mas pêra ai, o que foi que eu disse? Eu não quero mostrar quem eu sou, eu quero reencontrar alguém que se perdeu, nos caprichos do próprio ego, nos marasmos e no vislumbrar de uma mente que há muito tempo deixou te ser etérea, talvez eu possa dizer lá na frente que esse é o meu melhor texto. Não. Esse é o meu melhor desabafo, porque ele é o primeiro. Antes de começar a escrevinhar eu queria escrever sobre algo bonito, como o amor, mas isso não sou eu, não agora, não no passado, e talvez nem no futuro, eu vou me arrepender de ter dito isso. Eu pensei antes de começar a redigir esse desabafo ou qualquer outro nome que se dê, tentei organizar minhas ideias e traçar uma linha, um tema, mas eu vi que eu não sou nenhum tema, eu ainda tenho beirado o nada, talvez o nada me explique porque eu não estou conseguindo soar como algo moldável, eu não estou vendo onde posso me encaixar me sentindo bem. Queria falar sobre o amor de primeiro, mas vi que sou péssimo e um ótimo escrevinhador diga-se assim escrevendo sobre um tema tão piegas numa palavra tão importante. Não. Eu não quero esquartejar os vários subtítulos que estão por dentro dessa palavra que nunca me fez sentir com o coração, outra vez eu falando bobagens, eu tento dizer a mim mesmo, pare de se analisar Vinicius, pare de dizer que isto ou aquilo, pare de ser tão maniqueísta, a vida é muito mais do que só preto no branco, mas eu não consigo, a minha mente é minha própria repressora, a conselheira com uma colher de pau nas mãos esperando que eu erre pra dar o meu castigo.


Se um dia eu chegar a amar e se esse mesmo sentimento vier a ser correspondido, é assim que eu imaginaria, eu lá lendo aquela gigantesca carta sobre o que é o amor segundo minhas concepções e todo mundo sentando em volta da mesa de doze lugares na pizzaria calados e só prestando atenção no que digo a cada parágrafo terminado, enquanto um novo se segue: “Eu poderia dizer aqui, que quero passar com você só os momentos bons, que só quero flores frescas, que quero somente aqueles dias ensolarados de junho, que não quero nenhuma briga, e que você não estranhe quando eu estiver na banheira chorosa e com uma taça de vinho nas mãos enquanto você chega do trabalho, eu quero que você me ignore quando eu não estiver bem, pois a verdade é que eu cruzei os dedos, quando o padre disse pra estarmos unidos até na pobreza e na dor, eu cruzei os dedos, é como se eu dissesse, não se importe com minhas dores, com meus medos, com meus temores, se importe comigo só quando eu estiver sorrindo. Mas isso não é um casamento de dois, e isso é só o que eu não quero que o nosso amor vire um casamento com dedos espremidos num anel, eu quero te dizer, que quando por ventura eu vir a faltar, que como você vinha e me acordava com um buquê de margaridas na cama, eu quero que você também me encha de flores quando eu estiver me despedindo, eu quero que todos estejam de mãos dadas quando o cortejo estiver saindo da agência funerária, não pense um minuto em segurar as suas lágrimas. Quando você desabar eu te seguro. Eu quero um amor que sobrevive a quedas, que me dá a mão quando vou fraquejar, eu quero que você se importe quando eu estiver chorosa imersa dentro da banheira só com a cabeça pra fora, pois nós dois juramos que estaríamos juntos na riqueza e na pobreza na dor e na bonança até que a morte nos separasse, contudo quero dizer, o meu amor é isso, ele não é sem você ele precisa de dois pra viver, mas só de um pra terminar, em suma quero dizer que vou te amar, nas flores frescas da primavera e nas coroas de flores do outono, eu estou tentando dizer que o meu amor destoa desse preto e branco, que piegas é a palavra, que comum e rotineiro é não amar, e daqui a setenta anos, quando estivermos bem velhinhos, com as mãos já rugosas, e os traços mais marcantes, eu quero voltar a dizer, o nosso amor destoa, o nosso amor destoa disso”.


Enfim eu resumo isso não como uma volta às escritas rascunhadas que sinto tanta saudade, e uma imensa falta, eu quero encarar esse desabafo como uma nova trilha, um novo caminho que me foi oferecido, e quem sabe num futuro próximo eu possa dizer, o meu desabafo foi à ponte, para esse descarrilar de sentimentos que se amontoam quando tudo dentro de mim outrora parece se afogar, eu vou poder dizer nesse futuro que seja amanhã; eu me encontrei, sem querer ter me achado, há um pouco de verdade nisso, eu me organizei na bagunça de mim, e pela primeira vez estou sentindo com o coração. É como se fosse uma seção de descarrego eu não me encontrei no paraíso e não estou nem de todo pisando nos espinhos, eu estou no meio termo do “nada”, mas estou sorrindo mais que ontem, isso é, se ontem eu sorri mesmo.

(Vinicius Sousa) 

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