14/01/2012


Num Copo Eu Trago a Vida

Tragou um pouco de gin e foi se afogar em mais um dia de arrependimentos, mas porque se arrepender de algo?  Sorri quando a dor lhe torturar os teus dias tristonhos doridos, e quando notar que tu sorris todos irão supor que és feliz. Uma bela utopia ou um pressagio? Não sei. Mas Charles tinha esse poder sobre mim, com seus cálices transparentes ele me acalentava, mas me consumia. E pensar que sorrir a algum tempo atrás era como pedir carona na estrada, aquela mesma da rota sessenta e quatro aonde todos iam caminhando para os braços de Satã, e ver que tudo isso hoje martela a minha cabeça não de bom grado, nunca foi, nós íamos sorrindo dor, caminhado desespero, mas precisávamos enfrentar aqueles dias, onde o silêncio era abomina(dor), onde o vento que dava a curva arrepiava os cabelos do braço. Nós estávamos dizendo adeus aos sorrisos, estávamos dizendo adeus a tudo o que um dia por mais distante que seja, foi causador de sorrisos despretensiosos. Eu preciso me revelar eu preciso me despir, congestionar está apertando como um soco de mãos fechadas o meu peito e o meu orgulho, os pássaros são pretos, o céu é de um negro profundo como se cair nele fosse um abismo sem fim, os passantes dizem adeus, os cães não rosnam, e assim vai se seguindo mais um dia que se acabam quando minhas lágrimas secam sob o mezanino da banheira do segundo banheiro do quarto esquerdo que dá vista para orla. Num copo eu trago a vida, num copo eu trago a vida como ela é, cheia de feridas e arranhões e vou me despindo de modos, eu sou o protótipo de uma raça aniquilada eu sou toda a saudade congestionada num peito inflamado, e ainda falam que eu sou o nada, que a minha cadência não faz surdos, eu morro nos braços do meu destempero, eu me jogo do sétimo do andar pedindo bis, me disseram também que sou louco quando boto a mão na massa, eu estou me sujando inteiro para me despir agora, tentem adivinhar quem sou? Coragem. Uma coisa que a muito não me visita nos dias de ventania, quando o diabo bate a porta oferecendo suas maças podres fazendo se passar por sadias.

Os cílios batem num frenesi absurdinho onde o frio da geada vai deixando a garganta cheia de arranhões, as pálpebras estão duras fazendo força para abrir, as pupilas querem se dilatar, mas dizer adeus dormindo é a forma mais tola de se despedir de uma viagem alucinante chamada vida. As unhas dos pés e das mãos estão azuladas, e o chão parece áspero e rude porque os joelhos sangram e a dor não cede, os cabelos negros e escorridos pelo ombro já estão perdidos no brilho que não faz parte dos mesmos, os pequeninos braços bailam no ar como se uma ordem de arcanjos erguesse uma seresta do fundo do mar bravio e cantasse em tributo a dor, que sobe pelo céu feito uma rachadura em parede podre, a fortuna foi embora, o ouro na mão virou pó e se desfez no vento seco que vai arranhado a laringe sem dó, o corpo solta um alerta de medo enquanto um vulto de cores escuras abraça as costas descarnadas e arrepiadas agora construindo todo o seu medo na coisa por detrás. Os anjos estão derretendo do céu, o paraíso está se afogando na tempestade de onde outrora se ergueu a seresta dos arcanjos, ou ele cede ou ele morre, dizem que não existe uma terceira opção, quando a solidão finca a foice e faz morada, pensei por um instante ser algo de maior periculosidade que me pudesse oferecer um mal maior do que minhas costas podem carregar. Abre os olhos, e o ouvido afinado no seu mais alto grau de sensibilidade ouve o vento cortando as folhas dos pinheiros sussurrantes; você está na ultima estrada, da ultima cidade do fim do mundo, defronte a uma floresta com seus piores medos, você faz ela, porque você é ela, e você não é nada, e tudo é tudo, tudo pode ser tudo, e tudo pode ser nada, enquanto tudo é muito subjetivo, e a mosca para no ar com ventos de duzentos quilômetros por hora, enquanto quem escreve não sabe se para ou continua que se faça presente então o “continua” quando volta? ninguém sabe, só sabe que tudo para, o que sabe agora é que não se sabe de nada. Ela disse: “senhor a vida não trabalha com possibilidade, nem com flashes você é o que você foi, e isso não muda. Lá no passado ficou, faça de novo algo de novo, deixe o passado se queimar antes que o vulto negro lhe abraçasse.

(Vinicius Sousa)


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