10/02/2012


A verdade é que um... Sempre vai ser sozinho. Não é sobre como eu enxergo ou custo a enxergar as coisas, mas sim é a maneira como as pessoas enxergam. Depois de mais um dia longo e deveras penoso, procurar o mertiolate e limpar as feridas no joelho é o que eu anseio com veemência, eu tenho essa tal de amabilidade mesmo que eu não saiba o significado dessa palavra em minha vida, minha mãe me ama, mas ignora meus problemas, talvez ela ame mais as regras que todos impõem? Teve uma fase da minha vida que a aceitação veio como uma bomba minando toda uma vida já minada pelos cotidianos bullying escolares.

Eu tinha quatorze anos, um garoto ainda na puberdade tendo sentimentos que pareciam ser errados, cheio de duvidas, anseios que ruminavam numa falta de ar no peito, o garoto das duvidas equivocadas e das respostas sempre traiçoeiras trazendo consigo a insígnia grudada no sangue de que as respostas direcionadas a mim tinham dois lados, era uma faca de dois gumes, onde certamente de um lado eu sairia ferido, já debilitado com os nervos em frangalhos, e a vida bagunçada, como numa cambalhota 360º graus, minha vida saltou vertiginosamente, e com elas foram todas as poucas expectativas que ainda tinha de ser feliz. Companheirismo, isso é difícil quando quem você mais ama te dá às costas no que deveria eu chamar de amor, foi a cambalhota que remexeu junto o cérebro e pra se encontrar dentro de mim você deve flutuar, pois uma simples ponta de espinho agora já me fere.

Por mais que o mundo esteja do seu lado, ainda estaremos sozinhos, fadados a caminhar nós e nós mesmos, pra onde? Quem sabe. Eu comecei a ter desejos estranhos dentro de mim que aos poucos foi começando a se aflorarem, mas eu os tocava de volta pra dentro de mim, e a bomba retroativa só ia aumentado, e quando fosse explodir iria ser tudo de uma vez. Eu só tardava a aceitar o que eu já sabia, eu não era diferente, não é isso. Perante a sociedade a minha forma de amar era diferente e era condenada, eu podia dizer que essa história que conto agora se passou a mais de cinqüenta anos no período da ditadura militar, mas não foi isso o que aconteceu. Aconteceu há alguns poucos anos atrás e ainda continua acontecendo, nunca para, cabe você dar um fim ou erguer a cabeça sempre, porque estejam cientes, muitas pessoas vão tentar derrubá-los pra baixo, e se você diz que não vai conseguir, então desista, essa luta é pra quem nasceu pra vencer e só por isso ainda coloca um sorriso na boca de vez em quando. De uns tempos pra cá eu procurei tentar parar de me enganar, fingir, omitir mentir, para quem eu era de verdade e que não havia nada de errado comigo, a não ser a forma que foi imposta pra eu amar. Eu não quero tentar te consolar, nunca acaba, talvez quem saiba um dia venha a melhorar, eu ainda não perco a esperança nessa gente sem esperança e tão seca de sonhos. Quero que você saiba que há modos de vidas distintas, cheio dessa miscigenação, repleto dessas diferenças, que podem e devem ser vividas e respeitadas harmoniosamente.

-Como foi pra você sair do armário?
- Eu nunca precisei sair do armário, porque eu nunca estive lá.

(uma entrevista que como de costume me cansou mentalmente, como as pessoas ainda estavam afundadas nos seus fundamentos.)

- Como foi se assumir perante uma sociedade? Como se sentiu?

- Eu pensei que ia morrer, eu tive ódio pelo fato de ser “diferente”, eu praguejei, eu perguntei por que, eu decidi procurar fatos, para uma explicação que era obvia. Porque tinha de ser assim. Não pense que essa frase soa como fanatismo ou comodismo, muito pelo contrário, é assim que era pra ser, não tinha respostas, mas eu as procurei, eu fiquei feliz por ter me encontrado na minha bagunça e ter me refestelado nela, eu pude arrumar ela como melhor me achei.

-Você é feliz?
-Não. Eu sou sozinho.

(Vinicius Sousa) 

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Oi moço, eu que gostei do que escreves, é tão distinto de tudo que já escrevi, mas muito obrigado.

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