Rebuscando num tempo sem volta as várias esferas de um poeta
sem teto, eu hoje me contento com um pão e um cobertor quente, “pelas barbas do
profeta” como o tempo correu com o relógio, e o futuro se mirou no meu presente,
como a seta atinge o alvo. Ser feliz só por feliz? Era como se pudesse andar
mas sem respirar, como pode um ser sobreviver sem ar? Era esse o questionamento
que me tomava o tempo de longas e intermináveis tardes, como posso ser somente
feliz, se os mísseis estão a cair, se o beijo morreu longe da paz, se a criança
pede colo e a mãe já não está mais ali? Era essas as questões que ficavam feito
nuvem pairando sobre minha cabeça coberta por tempestades negras. Como posso
dizer se sou isso ou aquilo, se até hoje o que eu vivi foi um projeto a frente
do meu tempo? Em outra galáxia talvez? Ou apenas numa mente alienada? Que
cansou tanto daquela melancolia de sábados e mais sábados ouvindo hurt e tentando
se afogar na banheira, que um dia resolveu ser feliz dentro de uma bolha, sem
expressão facial, nenhum tipo de gestos, apenas um sorriso engessado com uma
máscara de flandres que corria por todo o rosto, o cobrindo, e por trás era
tudo tão escuro e o sorriso estava despedaçado e tudo estava tão morno, e a
vida estava tão quieta e perfeita. Havia algo de podre ou muito sujo no meu
mundo, que sob lentes vencidas de seis graus me negava a enxergar que podia
sangrar também, e no findar de uma hora qualquer sorrir por simplesmente viver,
de uma forma humana, cercado dos erros, das atrocidades que o mundo engolia,
feito poeira espacial que ao invés de ser sugada para um buraco sem fundo, nos
sufoca.
Íamos certa vez devanear sobre saudades, e como eu faria pra
ver quem eu perdi do outro lado sem ir embora? A lisérgica viagem e o uso excessivo
de drogas misturadas a remédios, enganavam os cortes superficiais e internos de
uma alma desacreditada e de um corpo largado, sobre qualquer possibilidade
significativa de volta, “quem se foi não voltava, quem morria ia, quem ficava
só se abalava, despedaçava”, (Se abatia ainda mais), tentando reconstruir e dar
um novo sentindo a vida de onde nós paramos em quanto à vida não parou por nós,
na metade do caminho as interrogações nos atropelavam com seus carros cheios de
duvidas, e nós nos questionávamos será? Será que devemos voltar do ponto onde
tudo começou? Não?! Ia ser como andar prá trás, ia ser duas mortes e fosse lá
quem fosse mesmo não estando aqui certamente se estivesse iria se sentir
culpado.
Então a melhor opção era seguir em frente, vendo o sol se
por a cada dia, e o dia passando, e quem mais gostamos não voltando, então era à
hora de economizar as lágrimas que desperdiçamos por uma boa causa, mas que
nesse momento só ia mofando o que em decomposição já estava, tínhamos um
caminho, qual era mesmo? Eu ainda me faço esse pergunta e dentro dela aparecem
tantas respostas, algumas fundamentadas e outras nem tanto, eu poderia culpar
tanta gente, mas resolvi não culpar, porque antes de apontar o dedo eu já havia
também sido apedrejado. Então a história era a seguinte, eu tirei meu cérebro
pra lavar, e na vil insensatez fui viver num projétil à que eu designei “perfeito”,
uma casa grande, uma família grande, um cão de guarda, um condomínio classe
média, mesmas vontades, mesmos interesses, mesmos sorrisos, mesmas expectativas,
que um dia me assombrou e me mostrou que eu ia ter de sair dessa inércia que eu
havia me enterrado por (n) motivos, por muitos problemas, por uma infinidade de
desgostos, mas afinal, quem não tinha problemas? Em meio a seis bilhões de
pessoas espalhadas pelo mundo, eu era só mais um egoísta que se recusou a viver
desde então, com medo do que a vida lhe guardava.
(Vinicius Sousa)
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