Com a omissão nas mãos e os dedos ensangüentados, pra omitir
a prova do crime eu limpei minhas mãos por baixo do vestido roubado, rodado e
cheio de pétalas secas, agora a morte envolvia mais um figurante de uma peça
barata chamada vida ela estava em cartaz e eu era o coadjuvante-Devaneio
MEU.
***
Os dias partem depressa, as cenas mudam de cores,
constantemente, os arroubos na pele não escondem que algo dentro de você está
em festa, que a saudade se acaba quando a alegria começa, os dias partem
depressa, o amanhã corre como na velocidade da luz, pra cada momento de minha
vida vejo uma musica sendo entoada, em diferentes momentos, dentro das minhas
estações internas, tudo é tão límpido, é tão ríspido, é tão seco.
Toques de melancolia com uma voz feminina aguda ao fundo me
remetem, me submetem a tempos em que se estar sozinho não faz parte do pacote,
e consequentemente não é necessário, me lembrei agora ouvindo um solo de
piano, ser eu uma das esculturas barrocas de Caravaggio uma escultura viva
obrigada a posar pra que uma arte ali fosse ganhado vida, mas era só isso, era
só a obrigação de estar ali, pois o meu rosto melancólico e meu corpo languido
não escondiam, nada era singelo, a pureza veio retratada em um quadro de
cores frias com um fundo escuro cobrindo os poucos detalhes que minha vida assim
pedia. É tinha musica até para um dia de sol, onde os propósitos era esquecer o
mundo lá fora, se desintegrar do corpo, e sair sanando as culpas interiores que
vivemos colhendo por um ano inteiro.
E de súbito me
lembrei de Pixinguinha nos acarinhado com sua musica que não sei qual, porque
definitivamente não as conheço, mas esse nome veio à tona dizendo que eu poderia
me lembrar que os dias de sol são assim, mas que o sol também é triste, que o
verão guarda tristeza naquela brisa ensolarada e naquelas folhas ofegantes
secando-se num curso natural.
É tanta musica pra pouca história, que algumas eu cheguei
até mesmo a repetir, eram frases tão precisas que se encaixavam feito um quebra-cabeça, e em todos os dias não acontecia algo de novo toda hora, mas toda hora
tudo era novo, e cabia a mim escolher a musica certa pra hora certa, não nego,
as vezes falhava, e vezenquando um sorriso brotava de minha face, por saber que
se o momento era deveras triste, e a musica era alegre, e então se errei não me
culpava tanto assim. As tardes eram deliciosas e atrasava o relógio a seguir o
curso. Não sei como, mas eu sorria por poder participar mesmo que só das partes
que me fizeram inteiro, porque eu vim colhendo mais cacos que presentes, e
disso me serviu pra que eu aprendesse que as musicas certas se encaixam também
nas horas erradas.
(Vinicius Sousa)
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