14/02/2012

Exílio


Eu vou deixando para trás meus amigos
Eu vou seguindo na sombra do meu amor
Como se só ele me alimentasse
Eu vou com sede de vida, não sabendo que terei de jejuar por quarenta noites
Eu vou à sombra de meu perene amor, me esquentado com a manta da sua pele
Nas quarenta noites que passarei ao relento, somente eu meu amor e as estrelas
Que nos velam do teto rachado com aquele brilho fosco de aluguel.
Querendo me vender eu mesma, tenho a plena consciência de que minhas
Mãos rachadas e meus pés doloridos, é a prova de que tudo foi por amor.

Por que Margaretti? Moça de porte fino, esquia, lábio de seda selvagem,
E de família nobre, por quê? Fostes se aventurar na sombra de um sertanejo
Que queria simplesmente seu amor?
Pedir-te-ia para que ficasse, mas tendo eu feito isso, não sobreviveria longe
Do teu perfume cheiro de pele, não suportaria ter de me contentar em saber
Que o amor é mais forte que a morte, e só por isso mais alguns dias
Ainda podia me enganar que vivia.
No lombo de meu pangaré, entregamos nossa sorte ao destino,
E na sombra de minhas robustas costas desejo proteger-te desde então.

Amor de toda minha vida, deixando as matérias que já não
Servem-me mais, fui porque te amo, fui porque nosso amor é nosso,
Fui porque decerto sei que nosso amor não é chama que queima e logo
Apaga, deleito-me em seu âmago que no desconforto do lombo
De nosso pequeno pangaré me resguarda a queda.

Há vida temperada de açúcar mascavo, o nosso preço foi muito caro,
Em troca de sua alforria me vi sentenciada a uma pena que queria cumprir.
Assim tinha dito papai, que sem nem saber, prisão alguma existia.
Quebrando as asas me debandava pra debaixo de um salgueiro falante
Que me dizia certa vez que nosso amor era coisa bonita de se ver,
Era fabula primeira de uma história original dos moldes do livro
Que nunca viemos pensar em dar vida, mas que séculos mais tarde
Viera a se tornar a história primeira de um molde original.

Com a esperança estampada nas mãos, e o sorriso de dias melhores
Nos lábios, o sol parecia mais fraco, a noite parecia mais branda.
E o que outrora começou em chama foi subindo pelo céu esgueirando-se,
Espalhando-se por todos os cantos e marcando nosso amor, no buraco
Mais fundo da galáxia.
Um amor que gerou frutos, que abrandado foi ficando. Mas nunca
Deixamos que cinza virasse, amor de Sinhá e Plebeu, que ao longo do tempo
Uma bela história se deu. Nos moldes de ninguém a não ser nós dois
Nosso amor não havia copiado nem a morte
Que sendo forte não rompeu a nossa intangível
Sorte de sermos únicos e tão fortes como a morte.

Nosso amor. “Algo colossal, grandioso, gigantesco aparentemente mirrado, fraquinho e pequeno aos olhos da cobiça e da inveja. Mas como Davi derrotou Golias, nosso amor desbravava as tempestades mais suntuosas do mundo, repelindo grilhões, e dando atesto de eternidade.”

(Vinicius Sousa)

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