Não é como das outras vezes em
que sonhava com um céu repleto de maravilhas, as danças retorcidas nos pés
cheios de calos os dedos desvendando a superfície sensível da minha nuca. Nunca
é como a gente pensa, e a gente se arrepende por pensar que seria melhor, por
sonhar a gente acaba se ferindo e por ter medo se medindo. Não tinha medo do
que fui ontem, isso num presente há muito tempo passado, mas sim do que seria
no futuro depois disso tudo. Eu construía meus passos nas tuas mãos de
cachoeira, me arrebentar como a intensa água surgida no alto morrendo no fundo
do chão. As horas se apagaram no LED do painel do seu carro, segui sob sua supervisão
de soslaio, eu no carona ressurgindo a minha dor, meus medos e poucos fracassos
do som do seu carro.
Ninguém deve saber como doí não te amar, e
mesmo assim ainda me importar quando some por mais de uma semana ou ignora meus
recados, quando seu rosto aparece num domingo úmido e frio e com um sorriso
exagerado você finge não meu usar, e eu finjo que acredito que essa será a
ultima vez que eu vou conseguir deixar tudo para trás, te esquecer. Esquecer
seu nome, seus detalhes, o jeito como você fala da vida e como seu namorado não
se importa com você, mas você o ama, estamos sentados na cama do motel, eu
apenas ouço como você fala dele, como você acha que ele te faz feliz e como
você o ama por ele poder jogar com os seus sentimentos. Afinal é isso, você ama
o que é belo, a sua esperteza a sua destreza, e eu sou jovem e meus sentimentos
ainda que não sejam, são patéticos.
Ao falar, você exprime nas
palavras classe e cor, tenta disfarçar a dor jogando com ela, pra isso você
precisa entrar no jogo, e então tudo fica melhor quando você determina o que
pode ou não acontecer, isso é tão típico, você não quer machucar-se, não
consigo entender. Quando o céu estremece as seis da tarde e o sol mais morno
começa a se por, eu sinto frio e ele não está como disse que estaria. Não! Ele
nunca disse. Nos segredos de um motel morre nossa intimidade, você me usa e eu
te uso. Nunca irão existir palavras como
essas; em teu REGAÇO sou mais fraco. Durante a semana e em todo o resto você me
acorda com um BEIJO de bom dia, corrigimos nosso velho inglês ao trocar caricias
então você dá vinte passos e chora calado, você acha que não, mas eu consigo
ouvir tudo o que o seu choro diz. As lágrimas secam sob sua pele negra e eu
finjo que não me importar, mas na verdade queria pedir pra que saísse da minha
vida. Gentilmente, como os bons cavalheiros devem fazer. Pronto, seus dedos e
sua boca apalpam a pele das minhas costas, em posição de feto morremos no
silêncio, seu ar gelado é só o que resta no profundo silêncio do quarto.
Sua mania esporádica de me tratar bem acabou.
Toco seu pênis com o meu rosto meio morno, minhas mãos perfilam suas pernas
salientes enquanto seu arfante ar se empavona, já não posso morrer mais em teu
regaço, me abro com uma petulante flor, você me invade, me evado e choro sob as
poucas gotas do chuveiro que caem sobre o chão da minha cara (tudo pareceu tão
morno AMOR). Um segredo instantâneo
invade o ar do carona, a autoestrada é linda, é uma boa noite pra se morrer.
Flertaria com sua dor se pudesse, conversaria com a sua vaidade, você o ama e o
proclama em suas orações constantemente (Eu sei que sim/que faz). Eu na verdade
só quero que isso pare que nossa amizade de benéficos seja cancelada, que saia
da minha vida da mesma forma que entrou.
PS: É verdade
Bariloche parece mesmo nome de motel.
Algo que pareça com a
realidade é uma mera coincidência.
(Vinicius Sousa)
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