06/12/2011

Maremoto


Um maremoto tem atropelado minha vida
É como num slow motion eu nunca cai sobre as águas
É como uma fita ou cinegraph meu gestos são repetidos dia após dia
E um maremoto sem nem eu saber, vem devastando,
O pouco que ainda resta de não sei o quê

As águas vão-me afogando lentamente, no seu mar sem correntezas
Eu vou me despedindo fatidicamente, como se gritar não adiantasse de nada
O azul que antes azul profundo era vai se desbotando do céu,
E virando um cinza sangue, enquanto minhas vistas se atrapalham,
Em distinguir cores, e tudo fico pra trás agora

E como num slow motion eu nunca vou cair sobre as águas
Eu sempre irei voltar a palmos da vida,
Mais nunca romper o véu que me separa de tal
Eu ainda vou viver pra duas vezes morrer, pois nada em mim é medido
Eu vou viver pra morrer duas vezes, pois tudo em mim transborda
Como o cálice da desonra, que vai manchando a pura seda de vinho,
Sem quaisquer esperanças de resgate

Eu vou-me desajustando, e os ponteiros nunca sedem
E como uma fita ou cinegraph meu gestos são repetidos dia após dia
Eu vou rebobinando mais nunca paro, eu vou me cansado, mais eu nunca sedo
Um maremoto tem atropelado minha vida
Um maremoto tem atropelado minha vida, deixando duros os meus dias
Sem ter quem os aperte por entre os dedos

A chuva já não lava mais, e nem escorre nada junto à enxurrada
Eu termino aqui, sem mesmo chegar ao final
Eu me acabo queimando, como um leitor que detestou seu livro,
Sem um final, eu acabo queimado, sem ninguém pra ler o meu final
Sem alguém a que possa contar como foi meu final e se ele existiu

Um maremoto tem atropelado minha vida
O passado volta, volta, volta até não querer mais,
Mais a fita antes mesmo de chegar ao fim estraga
A memória antes mesmo de descobrir o fim queima
E eu termino aqui, sem mesmo nem ter chegado ao final
Eu me perco aqui, na minha própria sombra
Eu me perco em outras sombras

E não existe final, ainda que eu morra,
Alguém de algum lugar me revive, por puro sadismo
Só pra me ver morrer de novo
E eu nunca conheço o meu fim, eu nunca chego ao final
Eu nunca vou chegar.

(Vinicius Sousa)

Um comentário:

  1. Você e sua bela mania de retirar tudo o que há de mais profundo de mim, e atirar pro papel em forma de palavras na maior ousadia .. Adorei !!!!!!!!

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