Um maremoto tem
atropelado minha vida
É como num slow
motion eu nunca cai sobre as águas
É como uma fita
ou cinegraph meu gestos são repetidos dia após dia
E um maremoto sem
nem eu saber, vem devastando,
O pouco que
ainda resta de não sei o quê
As águas vão-me afogando
lentamente, no seu mar sem correntezas
Eu vou me
despedindo fatidicamente, como se gritar não adiantasse de nada
O azul que antes
azul profundo era vai se desbotando do céu,
E virando um cinza
sangue, enquanto minhas vistas se atrapalham,
Em distinguir
cores, e tudo fico pra trás agora
E como num slow
motion eu nunca vou cair sobre as águas
Eu sempre irei
voltar a palmos da vida,
Mais nunca
romper o véu que me separa de tal
Eu ainda vou viver
pra duas vezes morrer, pois nada em mim é medido
Eu vou viver pra
morrer duas vezes, pois tudo em mim transborda
Como o cálice da
desonra, que vai manchando a pura seda de vinho,
Sem quaisquer
esperanças de resgate
Eu vou-me desajustando,
e os ponteiros nunca sedem
E como uma fita
ou cinegraph meu gestos são repetidos dia após dia
Eu vou rebobinando
mais nunca paro, eu vou me cansado, mais eu nunca sedo
Um maremoto tem
atropelado minha vida
Um maremoto tem
atropelado minha vida, deixando duros os meus dias
Sem ter quem os
aperte por entre os dedos
A chuva já não
lava mais, e nem escorre nada junto à enxurrada
Eu termino aqui,
sem mesmo chegar ao final
Eu me acabo
queimando, como um leitor que detestou seu livro,
Sem um final, eu
acabo queimado, sem ninguém pra ler o meu final
Sem alguém a que
possa contar como foi meu final e se ele existiu
Um maremoto tem
atropelado minha vida
O passado volta,
volta, volta até não querer mais,
Mais a fita
antes mesmo de chegar ao fim estraga
A memória antes
mesmo de descobrir o fim queima
E eu termino
aqui, sem mesmo nem ter chegado ao final
Eu me perco
aqui, na minha própria sombra
Eu me perco em
outras sombras
E não existe final,
ainda que eu morra,
Alguém de algum
lugar me revive, por puro sadismo
Só pra me ver
morrer de novo
E eu nunca
conheço o meu fim, eu nunca chego ao final
Eu nunca vou
chegar.
(Vinicius Sousa)
Você e sua bela mania de retirar tudo o que há de mais profundo de mim, e atirar pro papel em forma de palavras na maior ousadia .. Adorei !!!!!!!!
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