09/12/2011

Tudo, tudo se foi, até você, até eu, até nós dois. Até o amor?



Agora estou aqui estupefato de cansar, eu relembro do nosso partir, enquanto as gotas escorrem pela vidraça. Nada vai regredir e nem retroceder, é a queda mais dura que eu vou ter de suster. Nenhum braço vai me segurar forte como o seu me segurava, nenhum adeus irá ser mais longo que o nosso. Como foi como foi, insuportável ter de me embriagar de éter, como foi, como foi, inesquecível ter de lembrar-me de nossa dor, na minha memória agora sexagenária. E tudo passou; mais o pó e as teias de aranha continuam imóveis aqui dentro, esperando que uma lágrima e uma mão limpa destruam e devastem os destroços. Isso é tão impossível como crer em conto de fadas, há muito tempo que deixei de ser criança. Eu pensei em alguns de meus devaneios, suando a pele entre calafrios e madrugadas mortas, e que você talvez, ia voltar no findar da tarde, mais você se foi, e crer em contos fadas, é como acreditar que eu ainda posso ser criança. Junto da partida, foi arrastado, tudo foi arrastado, meu coração e minha vida, destroçada, você levou a metade, e eu ali petrificado no cimento, sem poder fazer absolutamente nada, para que eu não morresse. Nada, eu não fiz... nada. E talvez perdão não exista, e conviver é o máximo que posso dar, é o Maximo que tenho me dado. Tudo, tudo se foi, até você, até eu, até nós dois. Até o amor? Tudo, tudo se foi, até você, até eu, até nós dois. Até o amor? Tudo, tudo se foi, até você, até eu, até nós dois. Até o amor? Eu repito freneticamente, enquanto ouço aquela valsa, eu me culpo freneticamente, enquanto deito-me pela milésima vez no divã, eu digo. Só mais hoje.

(Vinicius Sousa) 

Nenhum comentário:

Postar um comentário