04/06/2013

Jhonny. É hora de partir

Eu gosto do jeito como ele te toca – Gosto sim. Como ele desenha as mãos dele na sua cintura, como ele segura seus seios tão delicadamente como se segura um recém-nascido. Eu lembro de que estávamos na casa da fazenda, era verão e ventava muito. Planejando bobagens e discutindo Caetano. Era tudo tão nosso, os jogos que fazíamos as histórias que sonhávamos os olhares que trocávamos, o jeito como você beijava minha mão de lua e como eu amarfanhava meus dedos nos seus cabelos de anjo. Não tínhamos como saber o que seria dali para frente, você no norte e eu no sul, uma revolução dentro de nós gritando incessantemente pra que engajássemos nossos corações. De que adianta ter asas se não sinto vento na cara? Porque é mesmo que as pessoas choram? Como é sentir? Como é ter medo? Essas perguntas de anjo, e o que tinha visto nos filmes de romance ainda não me faziam dar uma resposta sobre essas maravilhas que o ser humano tem, mas não aproveita.

Lídia estava jogada no sofá, destruída, revirando em meio à bagunça da sua desatenção o maço de cigarros que perdeu junto com todas as lagrimas que não podia mais recuperar, era triste se perder sem se sentir vazio. Queria ser vazio, pra ser leve e simples, deixar para as memorias as preservações do passado. Nossos olhares se rendiam a um imenso cometa que ao certo já devia ter cortado muitas galáxias, ou a verdade tudo que víamos era algo que já havia se passado a milhares de anos. Parecíamos incólumes, mas a verdade é que estávamos com medo, eu sempre levantava da cama pela manhã e me ajoelhava, e pedia pra que Deus não me levasse sem conhecer o amor, é melhor estar triste que só. A solidão é uma condição, dura e solida, há uma beleza fúnebre e calma na tragédia, ela está em tudo que seus olhos conseguem enxergar, desde o nascimento de um bebê até o sepultamento de uma dor.

O campo jazia silencioso, as noites eram frias e as manhãs também. Um milharal denso, amarelecido com mais força pelo sol que se levantava escorrendo pelas montanhas que na madrugada choraram pela lua que sempre vivia num buraco negro e escuro. Jhonny me perguntou se já tinha me apaixonado por alguém. Ele não amava, e ter o prazer de partilhar de uma experiência como essa era algo muito importante. Eu podia ouvir o farfalhar dos seus dentes cheios de ansiedade quando contava uma história qualquer que tomei pra mim, seus olhos rosnavam para os meus. Era sonho ou loucura? Ele estava boquiaberto hipoteticamente, pois na confissão do silêncio que nos tomava o tempo. Jhonny silenciava minha respiração com um beijo, seus lábios de um rosado pálido, porém saborosos preenchiam os meus, seus olhos de ressaca se alagavam enquanto morria perpetuo em seus braços de alabastro. Seria inteiro dele, ele descobria o amor em meus braços eu a muito também, ruidosamente minha unhas encrespavam na sua pele e meu gemido bramia nos seus ouvidos.

Eu sei como dói, eu sei como dói e ainda tento. As dobraduras dos dedos dos pés massageavam a porcelana da banheira, os olhos cansados, e o corpo languido iam sendo tomados pela água morna dissipando-se no côncavo dos seios. Não havia amor. Vociferozmente meus desejos e meu amor me ensurdeceram. Não havia amor, não havia... Houve um tempo em que pensei conquistar o mundo e que você sempre estaria no portão esperando-me com sua farda, todo imponente, disfarçando o cansaço de um dia pesado. De como eu me apaixonei quando descrevia você em Da Vinci. Eu me lembro tão bem, meu olhar soerguia-se sempre para descrever seus gestos e meu amor poetizava ainda mais minha estranha euforia de te ter e não ter. Era estranho te ver e não te tocar quando se punha o sol, você era o cara certo pra eu mergulhar, morrer todo quente e frágil, deitar o meu orgulho no seu peito, ser fraco na sua cama e acompanhar a brevidade que havia trocado por toda uma eternidade.


Minha intuição diz que algo hoje em você mudou depois que a minha presença foi fenecendo, seu olhar se modificou, e quando você me olha seus olhos parecem dizer algo e eu não sei o que seja. Seu olá tem um peso de “perdoa-me”, sua boca tem qualquer gosto de apreensão. Eu já não consigo mais te descrever, eu fazia tão bem quando sonhava contigo. E assim te perdi, sem nunca você ter sido meu. 

(Vinicius Sousa)

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