09/06/2013

O Suicidio da Borboleta




Havia respostas no nada? A muito as asas já mórbidas, e as mãos transparentes mofavam no tempo do sol. Fosse meu esconderijo aqueles olhos nublados de céu que enfim vira o mar, uma mão admoestou meu ombro afagando-o. Uma morte é bonita, pois há toda uma beleza na tragédia. Quando escrevo as mãos tremem de aflição, os dedos choram, saem lágrimas deles, o corpo treme, e a voz implora pra existir no papel. Flamejando no espaço negro de quatro paredes, as vozes jaziam caladas na língua, uma boca fechada em uma mente aberta os sonhos enraizados na noite, a realidade presa na garganta como um choro a muito rememorado. Havia lembranças no passado, e todo mundo vinha e ia, era estranho me imaginar sem qualquer um deles, sem os beijos, os afagos, as horas boas da companhia, e o disfarce. O coração bateu dezesseis vezes até que enfim calou. Consenti o beijo entre as mordidas do lábio, seu pulso frio apertando-me no estupor, na letargia da vomito que as palavras me reviravam. 

A morte é uma tragédia em quatro atos; o chão caiu sobre seus pés quando as lágrimas banhavam seu pequenino corpo no salão oval onde o corpo era cremado. Tudo era tão depressivo e o desespero nem era mais eventual, sua mão ia sendo tocada por uma espessa e gélida sombra branca. Parecia um sonho, tudo correndo tão devagar enquanto a pressa das pessoas iam sendo acentuadas somente nos olhos. Estava em inércia os corações aflitos, as bocas delgadas, os olhos agora marejados. Quem dera existisse verossimilhança quando não pensasse se tratar de uma literatura de drama, mas não era muito real, o crime nos pulsos, o vestido de seda sedado pelos rasgos do mobile pontiagudo que se chocou. Seu corpo transluzia sangue, suas unhas purpúreas já podiam dizer adeus. 

O amor é uma tragicomédia ridícula e risonha. Doente, é tudo uma grande e bonita doença. Conquistaria o sol com as asas fabricadas, cairia sem rês, debandando-se então para um porto onde as uvas seriam de graça e o vinho seria barato. Não era como o sexo ou a depressão, seu abismo era significativo, havia uma distorção dos sentimentos do outro. A ladainha das vozes a cercavam, impregnando a sua mente fraca e abismática. Ela nunca seria como Jhonny seus filhos e até seu cachorro. A matemática deles era asquerosa, o jogo de palavras acentuando o sentimento. Não podendo se perder nos braços sem ser medida, se perdeu no imenso abismo que entreseparou todas as vidas.  

“Como eu poderia dizer? Ele me prometia sua dedicação, seu conhecimento e os benefícios. Com limite eu meu limitava, não é como morrer, é ruim, é ruim sim se acabar na interpretação de si mesma, na supervisão de um olhar quadrado, azul e de poucos horizontes.”
Transcendiam nas luzes diversas cores a colorir as asas de fada, os olhos de doente. Caiu em meio à puberdade das vozes que se revelavam em um mar de desgosto. “É bom se assassinar, há uma beleza nisso tudo, desde os desfalecer do corpo ate o imergir da alma. É triste viver sem beleza, sem tragédia nem amor.” Não havia pra ele. Eram intensas suas chamas, e flamejavam como as tranças do unicórnio, seus olhos castanhos e coruscantes se perdendo no além do inconsciente deixando tudo para trás, inclusive a vida. 

Eu não vou conseguir falar mais sobre amor, nossos corpos trepados um no outro, cheios de suor e esperma, olhos doentes, o pelo da pele encrespando, o falecimento do corpo depois do orgasmo, e todo cigarro que pudermos fumar. Vai ser chato viver sem essa descrição, sem o maravilhamento do toque agressivo, mas passivo do pressionar do seu corpo e da sua mão indecente.
Uma morte é bonita, pois há toda uma beleza na tragédia. Caindo como a pluma nos destroços pós-guerra, apesar de frágil, plena e forte.
A qualquer elisão na tragédia. Se achar confuso, então me leia.

(Vinicius Sousa)

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