16/12/2013

The Afternoon

Esperei por um segundo a sanidade voltar, cama desarrumada, móveis revirados, preludio da manhã e breve o enterro de nossos corpos mais o abraço mais quente e verdadeiro da face da terra. Um verde campo e a fotografia em sépia desbotando entre os dedos gordurosos dos anos vans. Estendi no espaço da alma o silêncio da fala olhando vagarosamente entrepensando porque não ele, a separar da última pelada o grito de vitória e o boom do lance no suor péssimo da derrota?

Disney, calçando meus sapatos de rubi caminhando com os braços jogados ao ar, meu vestido de bolhas flutuantes, minhas imensas pernas saltitantes, um monstro nas nuvens de olhos de fogo perdido no paraíso das neves, olhou-me furtivamente, seus olhos sorriram há poucos instantes e incrustou nas nuvens tirando de minha vista o prazer de sua presença. Minhas asas espetaculares que tocavam o fogo nu de seus olhos, e o grito da plateia apedrejando pelo nome o meu amado. Meu grande túmulo, o tumulto que cerca minha despedida, o silêncio presente em toda fotografia da vida enlutando um disfarce nos olhos de cachoeira de Henry, sua mão na minha, gélida e pálida como ar nevado da aurora boreal.

 Prepara meu café da manhã, torradas e geleia de damasco. Olhos preocupantes correndo o pé direito da casa ofuscado pela claridão negra de seu daltonismo. Os olhos de Clarice e Miguel que se despedem antes de nós, em meio à densa chuva plainando um disco voador sobre o Del Rey 1967. A vista o infinito depois da ponte Helevy, nós sozinhos na cama e na sala, sorrindo para o silêncio das bocas nuas. Ao longe se vai hibernando no lago de gelo o carro de nós suicidas, voando como uma bola de baisebol. Aterrissando fortemente contra o gelo, congelado para a eternidade, o olhar afundando lentamente, as pupilas dilatando, a visão caçando o futuro...o futuro morrendo.


Que manhã doente. Estão no sepultamento de Henry, que toca as mãos fúnebres de seu amado companheiro com olhos de ver navios, e esquecendo de vez toda a história do porto. As bocas quentes de despedida, rosas brancas num farol de incontroláveis saudações e tessituras da imagem. Henry por cima de mim, por cima do silêncio e por cima a treva e por cima a claridão e por cima a eterna morte espetaculando como todos, a bela fotografia vintage de um Disney não lançado em um afternoon barulhento e vazio. 

(Vinicius Sousa) 

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