Esperei por um
segundo a sanidade voltar, cama desarrumada, móveis revirados, preludio da
manhã e breve o enterro de nossos corpos mais o abraço mais quente e verdadeiro
da face da terra. Um verde campo e a fotografia em sépia desbotando entre os
dedos gordurosos dos anos vans. Estendi no espaço da alma o silêncio da fala
olhando vagarosamente entrepensando porque não ele, a separar da última pelada
o grito de vitória e o boom do lance no suor péssimo da derrota?
Prepara meu café da manhã, torradas e geleia
de damasco. Olhos preocupantes correndo o pé direito da casa ofuscado pela claridão
negra de seu daltonismo. Os olhos de Clarice e Miguel que se despedem antes de
nós, em meio à densa chuva plainando um disco voador sobre o Del Rey 1967. A
vista o infinito depois da ponte Helevy, nós sozinhos na cama e na sala,
sorrindo para o silêncio das bocas nuas. Ao longe se vai hibernando no lago de
gelo o carro de nós suicidas, voando como uma bola de baisebol. Aterrissando
fortemente contra o gelo, congelado para a eternidade, o olhar afundando
lentamente, as pupilas dilatando, a visão caçando o futuro...o futuro morrendo.
Que manhã
doente. Estão no sepultamento de Henry, que toca as mãos fúnebres de seu amado
companheiro com olhos de ver navios, e esquecendo de vez toda a história do
porto. As bocas quentes de despedida, rosas brancas num farol de incontroláveis
saudações e tessituras da imagem. Henry por cima de mim, por cima do silêncio e
por cima a treva e por cima a claridão e por cima a eterna morte espetaculando
como todos, a bela fotografia vintage de um Disney não lançado em um afternoon
barulhento e vazio.
(Vinicius Sousa)
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